quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Conheça o catarinense Nildo Ouriques, que pode ser candidato à presidência pelo PSOL

Conheça o catarinense Nildo Ouriques, que pode ser candidato à presidência pelo PSOL


                                             NILDO OURIQUES    foto google imagens

eleição presidencial do ano que vem pode ter um catarinense entre os candidatos. Para uns, azarão, para outros, pré-candidato, o professor de Economia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Nildo Ouriques, 58 anos, é filiado ao PSOL desde abril deste ano e já trabalha no garimpo por apoio à empreitada em pequenas andanças pelo país. Ouriques tem histórico na política como militante de base. Petista por pouco mais de duas décadas, deixou o partido em 2005. 
Nascido em Joaçaba, Meio-Oeste de Santa Catarina, morou na cidade até os 17 anos, quando concluiu o ensino médio. Já na Capital, onde mantém residência atualmente, fez um ano de cursinho e ingressou no curso de Economia da UFSC. Ao longo dos estudos na academia, concluídos em 1985, o hoje professor formou o Centro Acadêmico de Economia, onde atuou como presidente, cargo que em 1982 também ocupou no DCE. 
Antes de optar por trilhar caminho na política, mas já envolvido com militância de base, Ouriques também estudou teatro. A luta contra a ditadura e pela democratização levou a melhor e os palcos foram deixados de lado. A decisão também impulsionou a primeira filiação, no PT, em entre 1982 e 1983. Agora, paralelo à docência nas cadeiras de Economia e de Relações Internacionais, ambas na UFSC, Ouriques, que, tirando quando foi candidato a reitor duas vezes, nunca concorreu a cargos eletivos antes, concilia a presidência do Instituto de Estudos Latino-Americanos (Iela) com a atuação no PSOL. 
Ouriques conversou com a reportagem do Diário Catarinense na quinta-feira do dia 5 de outubro. Ele estava no Rio de Janeiro, onde palestrou para os alunos da Universidade Federal Fluminense (UFF) sobre o livro "Criticas a Razão Acadêmica", lançado na noite anterior na 8ª Bienal de Alagoas. Para se consolidar como candidato à Presidência da República, ele precisa do aval do partido, que se encontra para a convenção nacional entre os dias 1º e 3 de dezembro em Goiás. 
Até lá, conforme o atual presidente do PSOL em Florianópolis, Leonel Camasão, há ainda a chance de outros políticos, como Guilherme Boulos, do MTST, se lançarem à pré-candidatura. Até então, esse também era o caso de Chico Alencar, deputado federal do PSOL no Rio de Janeiro. No entanto, nesta segunda-feira, Alencar optou por concorrer ao Senado e não mais ao cargo de presidente, como havia sido cogitado até então. 
Paralelo a isso, o presidente do PSOL municipal, na Capital catarinense, acredita que a candidatura de Ouriques não deve se consolidar. Camasão estima que apenas 1% dos setores apoiam a candidatura do professor. Confira abaixo como foi a conversa com Nildo e o que ele disse sobre alguns pontos polêmicos da atualidade no país. 
Por que essa lacuna de quase uma década entre a desfiliação do PT e a entrada no PSOL? O senhor não se identificava com nenhum outro partido?Eu votava no PSOL, atuei como um intelectual, considerava que a vida política no Brasil estava engessada, que o petismo estava denso e eu tinha clareza que tinha que esperar o colapso do PT, não só do petismo, mas da oposição PT/PSDB, que eu chamo de "sistema petucano". Quando isso naufragou na última eleição presidencial com a Dilma, não com o impeachment, mas porque a Dilma prometeu uma coisa e entregou outra. Quando a Dilma prometeu um programa e, na engenharia, assumiu a proposta do Aécio, do Armínio Fraga, e colocou como ministro um banqueiro, um funcionário medíocre, que o é o Joaquim Levi, eu decidi que a política começou a existir no Brasil novamente. Com o impeachment ficou mais claro que abriu um espaço para fazer política mais radical, mais à esquerda. Pensei: "Esse é um terreno em que eu posso atuar." Um terreno de concurso de bom moço, que é o pior da política, eu não tenho a menor chance, e nem quero ter. 
Essa questão da economia foi o que te desmotivou dentro do PT?
Não foi só isso. Eu me opus também ao fato de que o partido deixou se submeter a uma razão de Estado e deixou a perspectiva militante de base e radical, claramente socialista. Sem isso, eu digo: "Bom, se o Lula assumiu o Plano Real do Cardoso, por outro lado não existe mais o impulso da militância de base socialista e radical". Eu digo: "Olha, é perda de tempo". Saí imediatamente. Saiu eu, o Plínio de Arruda Sampaio... Éramos 23 economistas no Fórum Social Mundial de Porto Alegre. A gente abandonou e declarou para todo mundo. A gente saiu do partido quando o partido virou governo federal, um monte de governador, quando tinha os problemas de cargos, posições, ministérios, secretarias. Saímos quando era fácil ser petista e entramos quando era difícil ser petista. Então, estamos acostumados a remar contra a maré. 
Com a ideologia do PSOL, o senhor acreditou que podia tentar novamente?O PSOL é uma frente política que se define como socialista e a favor da liberdade. Eu pensei: "é conosco mesmo." Dentro do partido, o que eu estou fazendo, como pode ver no meu blog, está lá um manifesto sobre a revolução brasileira. Lá tem um manifesto com as razões pelas quais eu entrei no partido. Entrei no partido não para reforçar uma pauta identitária, entrei no partido para discutir a revolução brasileira que o Brasil está precisando, ninguém mais acredita em nada. 
Como, sem disputar cargos eletivos antes, o senhor chegou a esse patamar de pré-candidato à Presidência?Olha, essa ideia foi o seguinte: nós observamos a crise brasileira e observamos que existe a necessidade de um candidato que estabeleça claramente o que está acontecendo no país. A maioria dos candidatos nada diz, todos estão em um concurso de bom moço, falando "olha eu sou simpático, querido, bom, não estou afim de radicalizar", uma hora dizem que são a favor da moratória da dívida externa, eu por exemplo, estou claramente falando "é preciso ter um candidato que diga para o Brasil o que de fato está acontecendo", em resumo, alguém que reconcilie verdade e política. Porque hoje, para a maioria do povo, o político é um mentiroso. Então entrei no partido para dizer "agora existe uma crise". Nós temos um grupo de 12, 13 economistas, uns ex-alunos da graduação e pós-graduação, temos um fórum permanente, nós temos um diagnóstico. Eu apresento para o partido e muita gente no Brasil inteiro, em debates. Em tudo que é canto, antes de eu entrar no PSOL, começava a defender a ideia de que eu deveria ser candidato, fui amadurecendo e se configurou uma situação com a crise. Essa necessidade de colocar um diagnóstico para o Brasil, reconciliar política com verdade. Então daí nasceu. Começaram várias tendências no interior do partido a adotar essa candidatura e esse programa que está crescendo cada vez mais. 
O senhor tem apoio dos demais membros do partido nacionalmente?Estou conversando com todo mundo, vendo as tendencias. Sentei com Ivan Valente, Chico Alencar, sentei com o Glauber [Braga, deputado federal do Rio de Janeiro], sentei com todo mundo, com o pessoal da Luciana Genro, sentando aqui [no Rio de Janeiro] e fico aqui até domingo [15 de outubro] em intensa atividade. Avaliar as tendencias internas. Conversei com o deputado estadual em São Paulo, o Raul Vicente. Estou conversando, cada vez mais gente adotando a candidatura. Outros esperando uma decisão do Chico, outros condicionando que o Chico não seja candidato à Presidência, mas sim ao Senado do Rio [o que se confirmou depois da entrevista]. Estou otimista. Cheguei de Maceió ontem, aqui no Rio conversei com o pessoal do diretório municipal e estadual, que eu nem conhecia, mas que fizeram questão de me buscar no aeroporto. Conversamos por uma noite inteira depois da minha atividade. Estou muito animado, satisfeito com a reação, com o debate dentro do partido e com essa repercussão fora. 

Catarinense conversou com a reportagem do DC em entrevista no dia 5 de outubro
Revogação do Estatuto do Desarmamento
"O armamento é um absurdo, isso faz parte de uma estratégia empresarial. Eu acho tem que acabar com o esquema de liberação de armas. O Brasil não tem a estrutura de classe e os mecanismos da sociedade nos Estados Unidos. Então, portanto, sou absolutamente contrário a toda tentativa de armar a população por uma via individual." 
Legalização da maconha
"Eu sou a favor das despenalização de todas as drogas. Porque a guerra às drogas é um fracasso. Nos Estados Unidos, em especial, até o Partido Republicano já mudou de posição, e na Europa, então... Nós temos que acabar com isso aqui. A guerra às drogas é um erro." 
Descriminalização do aborto
"Completamente favorável. Acho que a revolução cubana nos mostrou o que é a importância de a mulher decidir sobre o seu corpo. Absolutamente favorável. O Estado tem que garantir as condições para que a mulher decida, em qualquer época, em qualquer data." 
Casamento gay
"Absolutamente favorável. Não cabe ao Estado regular isso, o amor é o amor e pronto. As pessoas se amam e têm o direito de viver como bem entender. A vida privada é algo que se decide no privado. Quanto menos o Estado intervir, melhor. Não há nenhuma razão para aceitar qualquer tipo de descriminação." 
Lava-Jato e corrupção
"A Lava-Jato tem um problema sério porque ela é o que o nome diz, lava por fora. Nunca entra no núcleo da corrupção, então ela não se atreve a entrar no Banco Central ou no Ministério da Fazenda. Essa é a primeira questão. Ela está tocando em um problema que é grave e está tocando de maneira limitada. Segundo, que corrupção tem que ter um combate sem trégua e um político não pode namorar, em qualquer hipótese, em qualquer medida, com a corrupção. A corrupção é inerente ao Estado capitalista. É por isso que tem aí um engano dessa 'República de Curitiba', que está acabando com a corrupção, isso é farsa. Não vão fazer. Isso depende de um combate do governo cotidianamente. É da natureza do Estado capitalista a corrupção. E deve ser da natureza de um governo revolucionário o combate à corrupção. E o primeiro que tem que dar demonstração disso é o próprio presidente da República. Comandar esse combate. Ninguém no Brasil fez isso. Nem Fernando Henrique, nem Lula, nem Dilma, nem Temer." 
Reforma trabalhista
"Sou radicalmente contrário. Não existe reforma trabalhista, o que existe é supressão dos direitos trabalhistas. Radicalmente contrário. Porque 83,26% da população economicamente ativa no Brasil ganha até três salários mínimos. É uma vergonha esses empresários catarinenses e brasileiros achando que aqui o custo do trabalho é caro. Eles que verifiquem na Alemanha. Lá e nos Estados Unidos, o custo do trabalho é muito mais caro que aqui, e são economias altamente competitivas. Ocorre que esses empresários, além de corruptos, são incompetentes. Essa burguesia brasileira é uma rapinagem. Quer competir no mercado mundial aprofundando a exploração do trabalho. Sou radicalmente contrário e sou favorável que todas essas reformas aí, previdenciária, PEC 55, supressão dos direitos do trabalho... Isso aí que quero colocar a referendo popular. Porque está sendo aprovado por um covil de ladrões que é o Congresso Nacional, com mais de 370 deputados delatados, indiciados, presos. É uma vergonha. O Congresso não tem autoridade para nada. Reformas estruturais só através de referendo, o Congresso não pode fazer nada dessa natureza. Nós tivemos apenas duas consultas no Brasil, uma se era Monarquia ou República e outra se nós podíamos andar armados ou não. Se esses temas foram a referendo popular e o fim da seguridade não, então isso é uma banalização da política. Vamos proteger muito mais o trabalho. E faremos com que, quando o trabalho custar mais caro, que seja investido em máquinas, que é o que acontece no Japão e na China." 
Reforma política
"A classe política não vai fazer reforma política, nós temos que fazer a revolução brasileira para varrer do país o atual sistema político. Numa reforma política, eu não sei o que se entende. Eu entendo por reforma política construir um Congresso unicameral, ou seja, a extinção do Senado. Não é possível um sistema político em que eu vote para senador hoje e me encontre com ele daqui oito anos. Isso é inaceitável. O Congresso bicameral, como nós temos hoje, é uma imitação barata dos Estados Unidos. A primeira coisa de uma reforma política é isso. A segunda questão é proibir de todas as formas a participação do poder econômico na eleição. Os empresários ficam falando de reforma política, ética na política, que em toda eleição financiam seus candidatos e, muito claramente, a maioria dos senadores e deputados. A frente parlamentar em defesa do agronegócio é a maior do Congresso. Nós temos que coibir a participação do poder econômico violentamente. Terceiro, é que nós temos que restituir a participação dos Estados. Não é possível que Minas Gerais tenha quase o mesmo número de deputados que São Paulo. É preciso um critério de representação. Quarto, é que tem que ter tempo de televisão extraordinário, que não é só esse tempo na época das eleições. A televisão vai ter que ser democratizada radicalmente, não só na destinação do tempo de campanha, fazer um efetivo processo de democratização da mídia no Brasil. Política envolve também acabar com o monopólio dos meios de comunicação. Vamos ter que ter um sistema de fiscalização para tirar as rádios e os jornais da mão dos empresários, propriedade cruzada, isso aí tudo vai dançar, porque é tudo ilegal. E algo muito importante, centrais sindicais e universidades vão ter que ter televisão com alcance muito maior. Teremos que rediscutir tudo isso aí. Isso faz parte do sistema político. Estou falando da democratização do sistema político. Tenho que mexer no cotidiano das pessoas. É o quarto pilar de um novo sistema político. O que eu falo como sistema político não é o que comumente se discute, distritão, essas coisas, isso é tudo bobagem. Nada do que vem desse Congresso tem o meu respeito. Tudo o que vem desse Congresso tem a minha absoluta desconfiança." 

FONTE: SITE DC

Um comentário:

  1. Olá. Ao menos parece sensato. Qualquer pessoa de bem no Brasil sabe que esse país precisa de alguém decente à frente de seus problemas. Nossos políticos profissionais estão desacreditados, literalmente. O Brasil precisa de um choque de vergonha na cara, caso contrário, seremos apenas um bando de pretensiosos donos, cada um de uma verdade, sem qualquer chance de oferecer dignidade ao Brasil e a seu povo.

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