Senadora é ameaçada de morte por milícias digitais bolsonaristas
Jair Bolsonaro perdeu a votação no Senado de seus decretos armamentistas, mas não foi por falta de ação de suas milícias digitais, aquelas que perseguem nas redes sociais quem é tido como obstáculo ao governo. O próprio presidente havia incentivado, via Twitter, em 15 de junho, que os “bons cidadãos” cobrassem os senadores a aprovar os decretos.
A maranhense Eliziane Gama, de 42 anos e do ex-PPS, foi uma das cobradas. “Saia na rua sem seus seguranças”, afirmava uma das mensagens. Segundo uma outra, a casa dela seria arrombada e seus familiares levariam bala na testa. Uma terceira dizia que a senadora “está marcada” e a xingava.
Tantas foram as ofensas e ameaças recebidas por seu gabinete que Eliziane registrou boletim de ocorrência na polícia legislativa e agora espera que os autores das mensagens sejam descobertos. Outros senadores também foram agredidos virtualmente e fizeram BOs.
“Pressões covardes”
Para o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), foram pressões “covardes” e “de flagrante injustiça e afronta à segurança dos parlamentares”. E não funcionaram.
Os decretos foram derrubados na terça-feira 17, por 47 votos a 28. Agora é a vez de os deputados decidirem. “O País vive um momento preocupante, em que começa a se cristalizar uma cultura de ódio”, disse Eliziane durante a votação.
É uma reclamação partilhada por bolsonarista arrependido. Em entrevista na TV Record no dia em que o presidente estimulou seus milicianos digitais, o cantor Lobão criticou uma “determinada ala bolsonarista muito fanática, retrógrada, com sanha de linchamento”, que está “partindo para o ódio”.
Essas milícias digitais estão na mira de um inquérito aberto em março pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A investigação corre em segredo de Justiça.
O juiz que cuida do caso, Alexandre de Moraes, acredita que a corte tem sido alvo de campanhas de ódio levadas adiante por meio de redes de robôs atuantes via Whatsapp e Twitter. Rede “que alguém paga, alguém financia, por algum motivo”, segundo ele.
Em 17 de junho, a Folha noticiou que, na eleição de 2018, empresas brasileiras contrataram uma agência de marketing espanhola para que houvesse disparo em massa de mensagens pró-Bolsonaro via Whatsapp. A fonte da informação foi o dono da agência, Luis Novoa.
Se o disparo maciço contratado por empresas aconteceu mesmo, foi ilegal. Pela legislação, somente os próprios candidatos podiam contratar a disseminação via web de conteúdo.
O Congresso também está disposto a enfrentar as milícias digitais. A criação de uma CPI da Fake News, com deputados e senadores, já tem as assinaturas necessárias dos parlamentares. Só não saiu do papel ainda pois a oposição pediu a Alcolumbre para aguardar a coleta de assinaturas para uma CPI da Lava Jato, a qual examinaria o conluio entre Sérgio Moro e a força-tarefa de Curitiba.
A oposição acha que duas CPIs desse porte funcionando ao mesmo tempo seria demais.
Fonte: Carta capital
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