sexta-feira, 24 de julho de 2015

VEREADOR PEDE DESFILIAÇÃO DO PT APÓS 25 ANOS DE MILITÂNCIA

'O PT não representa mais o trabalhador', diz vereador Adilson Mariano após pedir desfiliação do partido

Vereador que estava filiado ao partido havia 25 anos explica os motivos para pedir a saída do partido por justa causa nesta semana

'O PT não representa mais o trabalhador', diz vereador Adilson Mariano após pedir desfiliação do partido Leo Munhoz/Agencia RBS
Futuro de Adilson Mariano está sendo debatido junto às lideranças nacionais de sua corrente políticaFoto: Leo Munhoz / Agencia RBS
Átila Froehlich
Conhecido pela postura rígida e pela fidelidade à carta de princípios da política de esquerda, o vereador Adilson Mariano, representante do Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara de Joinville desde 2001, protocolou, na última segunda-feira, um pedido de desfiliação por justa causa do PT.

O parlamentar alega que a decisão é fundamental para continuar defendendo os trabalhadores e os jovens. Como motivação, cita o afastamento da sigla com setores sociais que há décadas a apoiavam.



— Tornou-se impossível respeitar o meu mandato parlamentar estando no interior do PT. Ao tentar manter erguidas as bandeiras originárias do partido, tenho sofrido todo tipo de perseguição daqueles que hoje o comandam — diz Mariano.

Crítico conhecido dos rumos dos governos petistas federais e joinvilense e do regime interno do partido, o vereador conta que enfrentou várias tentativas de censura interna e, inclusive, de expulsão. O parlamentar enfatizou que se mantinha filiado porque acompanha o movimento da classe trabalhadora, a qual ainda se referenciava na sigla, em sua opinião.

— No entanto, depois de anos de traição, que culminaram em um verdadeiro estelionato eleitoral em 2014 e em 2015, o PT rompeu com sua base social histórica, a juventude e os trabalhadores. Assim, não há mais motivos para manter minha filiação — justifica.

Mariano explica também que ele e os seus correligionários estão realizando reuniões com filiados desde abril deste ano, quando a Conferência Nacional da Esquerda Marxista decidiu sair do PT. Como perspectiva, apresentam a necessidade de formar uma frente de esquerda que tenha uma visão socialista para atuar no cotidiano dos movimentos sociais.

O rumo de Adilson Mariano está sendo debatido junto às lideranças nacionais de sua corrente política. Entre as possibilidades, está a filiação ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), que já sinalizou interesse no ingresso do grupo marxista.

—  Ainda é cedo para desenhar com precisão esse futuro político. A esquerda não descarta uma filiação ao PSOL, embora o grande clamor seja pela criação de uma nova frente que una todos os partidos de esquerda sob os mesmos ideais que motivaram a criação do PT lá no começo — explica.

"O PT não representa mais o seu povo"

A Notícia: Com a sua desfiliação do PT, os planos para as eleições de 2016 mudam ou o joinvilense ainda vai poder votar no senhor para permanecer na Câmara de Vereadores?

Adilson Mariano: Evidentemente que é com grande satisfação e responsabilidade que tenho sido um representante da política de esquerda no Legislativo. Mas é importante lembrar que eu sou resultado das decisões que a esquerda toma, e não o inverso. Se for a vontade da nossa frente de luta que eu continue aqui, defendendo os direitos dos trabalhadores e da juventude, então é aqui que vou ficar. Mas tudo depende de como vamos direcionar o barco nos próximos meses.

AN: Não é todo dia que vemos um político com 25 anos de partido, 15 deles diretamente à política legislativa da cidade, pedir a desfiliação. Qual foi a "gota d'água" para o senhor pedir a saída do PT?

Mariano: Fiquei no PT até então porque, como comunista, acompanho o movimento da classe trabalhadora e ela ainda se referenciava nesse partido. Mas o desgaste, o derretimento do PT, não é um fato isolado. Vem acontecendo há tempos. Em 2002, a vitória presidencial do Lula era a esperança de milhões de trabalhadores para mudarem as suas vida. Ao contrário, o que se viu foi o aprofundamento de uma ampla coalizão com partidos burocráticos e a manutenção da gestão capitalista do Estado. Esse histórico de traições é muito extenso, mas definitivamente não vimos mais motivos para manter minha filiação.

AN: O descontentamento com a postura do PT é uma questão particular ou tem relação com uma decisão da esquerda marxista?

Mariano: Minha atuação na vida política é pautada pelos princípios da política de esquerda. Há muito tempo que o PT abandonou sua carta de princípios e cedeu ao jogo político, fazendo alianças e cedendo cargos. Vejo nas eleições de 2014 o grande alerta da população ao PT para que se retomasse o rumo original do partido. Infelizmente, as coisas não voltaram ao eixo e o outrora Partido dos Trabalhadores não representa mais o seu povo. Um instrumento que foi criado para proteger e assegurar os direitos do trabalhador agora o ataca e tira seus direitos. Não faz mais sentido continuar no PT.
AN: A situação na Câmara de Vereadores mudou desde que a sua desfiliação foi anunciada? Houve procura de outros partidos da casa?

Mariano: Numa situação dessas, é natural que representantes de outros partidos nos procurem, dizendo as portas estão abertas e que somos bem-vindos. Mas compactuar com isso e anunciar a filiação em partidos que historicamente fazem uma política oposta a nossa não nos faria diferentes do PT de hoje. Vamos estudar com cuidado os próximos passos, pois embora a decisão de desfiliação tenha sido bem pensada e planejada, ainda temos um terreno incerto pela frente. Não sei em qual partido vou me filiar ou se realmente vou fazer qualquer filiação.
FONTE: http://anoticia.clicrbs.com.br/sc/politica/noticia/2015/07/o-pt-nao-representa-mais-o-trabalhador-diz-vereador-adilson-mariano-apos-pedir-desfiliacao-do-partido-4809131.html

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