HISTÓRIAALEMANHA
1983: Condenação de mãe que fez justiça com as próprias mãos
Marianne Bachmeier não demonstrou nenhum remorso 13 anos depois de matar, a sangue frio e dentro do tribunal, o provável estuprador e assassino de sua filha Anna, então com sete anos de idade. Autoconfiante, ela fala a um âncora de rádio sobre sua nova vida na Sicília, na Itália.
Foi para lá que ela se mudou, depois de uma breve passagem pela Nigéria, após cumprir pena na prisão pela morte de Klaus Grabowski. Ela não suporta mais a Alemanha, principalmente a cidade de Lübeck, onde tudo começou.
"Para mim é uma cidade de assassinos. Lübeck pode ser muito bonita, mas para mim está muito ligada a todo esse processo", afirma Bachmeier, que desde o caso não conseguiu apagar essa imagem da cidade.
Era lá que Marianne morava com sua filha Anna, até esta cair nas mãos de Klaus Grabowski, que primeiro abusou sexualmente da menina, assassinando-a em seguida. Ele já havia sido punido por crime sexual, tendo se deixado castrar para poder sair da prisão. Já em liberdade e com uma nova namorada, ele recebeu injeções de hormônios masculinos, que restabeleceram seus instintos.
O porquê da sua ação
Falhas e descuidos dos juízes, médicos e assistentes sociais responsáveis pelo caso de Grabowski foram discutidos no novo julgamento, pois podem ter contribuído fortemente para a iniciativa de Bachmeier, uma vez que o assassino de sua filha não teria sido devidamente punido.
"Eu não queria ir para o julgamento. Eu teria de depor sobre o caráter de minha filha. Fui ameaçada até de aplicação de medidas disciplinares no caso de ausência, o que era uma provocação. Ninguém deveria se surpreender com o que aconteceu", afirma a mãe.
Bachmeier chegou ao primeiro dia do julgamento carregando uma Beretta calibre 22. Atirou oito vezes nas costas do réu, acertando sete. Grabowski morreu e Marianne foi presa, acusada de homicídio.
O julgamento acabou levando-a ao estrelato, e os relatos da imprensa sobre o caso dividiram a opinião pública: um caso de justiça com as próprias mãos, algo que, nessas condições, jamais havia sido visto no país.
Os jornais, revistas e diversas emissoras cobriram o caso à exaustão, tanto que a revista Stern publicou uma biografia de Bachmeier em 13 capítulos. Também foram planejados dois filmes sobre a história da mãe que vingou a morte de sua filha.
O outro lado da moeda
"Só recebi cartas de apoio, regularmente chegava correspondência de fãs. As pessoas tiveram muita compreensão comigo", afirma. Porém, também houve a reação oposta.
A vida de Marianne foi escancarada publicamente para todos os que quisessem ler, ver e ouvir: uma infância miserável, com um pai membro da SS, disciplina severa, humilhações, estupros, fugas, primeira gravidez aos 16 anos, uma segunda aos 18, sendo ambas as crianças entregues para adoção. Anna, sua terceira criança, também era para ter sido entregue a pais adotivos, já que sua mãe não queria mais ser responsável por ela.
O veredicto
O tribunal precisava decidir-se sobre homicídio culposo ou doloso, se Bachmeier tinha atirado com intenção criminosa ou pelo verdadeiro abalo emocional.
"Não se pode tratar homicídio culposo e doloso da mesma maneira, pois isso faria de todo soldado um assassino. Para mim o 'como' é muito importante. Eu tive que ouvir quando o assassino de minha filha descreveu a forma como ele a matou. Apertou o pano ao redor do seu pescoço cada vez mais forte. Aí eu atirei", confessa Bachmeier.
No dia 2 de março de 1983, os juízes de Lübeck acabaram decidindo-se por homicídio doloso e a condenaram a seis anos de prisão. Ela jamais lamentou seu ato. Mas para a Alemanha ela virou as costas, indo trabalhar como enfermeira de doentes terminais na Sicília, onde também escreveu um livro sobre sua vida. Marianne Bachmeier morreu em 1996.
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