Um partido à venda
Familiares de Levy Fidelix, morto no final de abril por Covid, querem “negociar” o controle do PRTB e passar a sigla para Bolsonaro disputar a reeleição
Com a morte do presidente nacional do PRTB, Levy Fidelix, a família do dirigente viajou a Brasília para colocar o partido à disposição do presidente Bolsonaro. O capitão não está filiado a nenhuma agremiação desde 2019, quando deixou o PSL, e busca de uma nova sigla para disputar a reeleição. Fidelix morreu em abril vítima de Covid-19 e, no dia 27 daquele mes, os três filhos do dirigente — Levy Filho, Lívia e Karina —, além da viúva Aldineia, tiveram uma reunião com o mandatário. Foram recebidos no Palácio da Alvorada em um suntuoso jantar, fora da agenda oficial. O interesse dos familiares em “entregar” o partido a Bolsonaro foi o cardápio do banquete. O mandatário teria dado demonstrações de aceitar a proposta, mas colocou uma condição: exigiu que ele e os quatro filhos mais velhos assumissem o controle completo da legenda, inclusive a presidência, que agora está nas mãos de Aldineia — ela era a vice de Fidelix. Bolsonaro tem confidenciado a aliados o desejo de migrar para uma legenda que lhe dê autonomia total, inclusive para comandar suas finanças. No ano passado, o PRTB teve um fundo partidário de apenas R$ 1,2 milhão e, em 2018, teve direito a R$ 4,5 milhões de fundo eleitoral, bem abaixo dos R$ 193 milhões do PSL, partido de onde saiu depois que os dirigentes lhe negaram a chave do cofre.
No encontro, Lívia, a filha mais velha de Fidelix, cobrou o capitão pela falta de espaço do PRTB no governo. Bolsonaro teria dito que o acordo firmado com a sigla na campanha de 2018 era entregar ao PRTB vários cargos da vice-presidência — algo que não foi cumprido. Afinal, o general Hamilton Mourão é filiado à legenda e entrou na composição da chapa com Bolsonaro por intermédio de Fidelix. O mandatário disse aos filhos ter ficado surpreso ao saber que o partido não foi contemplado com nenhum dos 64 cargos disponíveis na vice-presidência. “A decisão de Mourão de não entregar esses postos ao PRTB sempre incomodou a família”, teria dito Lívia ao presidente.
“Porteira fechada”
Hoje, o comando do PRTB é dividido entre Aldineia e os filhos. Ainda não se sabe em que termos seria fechado o acordo, mas Bolsonaro não abre mão de fazer um negócio de “porteira fechada”. Entre a família ainda não haveria consenso sobre “ceder totalmente às vontades impostas pelo presidente”. Por isso, todos devem voltar a se reunir em breve para “bater martelo”: a família de Fidelix quer saber o que pode ganhar na operação de transferência do controle da máquina partidária ao capitão.
Desde que fundou o PRTB, em 1994, Fidelix disputou 11 eleições e foi derrotado em todas. Em razão do desempenho pífio nas urnas, o PRTB ganhou a pecha de ser “partido de aluguel”. Essas siglas sobrevivem sem apoio popular dentro do sistema eleitoral, e, mesmo assim, têm direito a parte do fundo partidário e tempo de propaganda eleitoral no rádio e na TV. Elas geralmente são usadas para negociar acordos com outros candidatos para ataques terceirizados a adversários. O PRTB não é a única legenda que já escancarou as portas a Bolsonaro. O capitão mantém conversas com o PSC, com o Brasil 35 (antigo PMB, Partido da Mulher Brasileira) e com o Patriota. A chance de o presidente optar por um desses, porém, é remota. O que o clã Bolsonaro queria mesmo era fundar o Aliança pelo Brasil, mas o projeto naufragou. Luís Felipe Belmonte, um dos fundadores da sigla, é investigado no inquérito que apura o financiamento de atos antidemocráticos e é suspeito de enriquecimento ilícito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário