NOTA DA REPÚDIO DE ANTRA CONTRA O LINCHAMENTO VIRTUAL PROMOVIDO CONTRA A REEDUCANDA SUZY.
A Associação Nacional de travestis e transexuais (ANTRA), vem a público repudiar a exposição sensacionalista e o linchamento virtual motivados pela transfobia social e estrutural, com que a página de Instagram Grupo de Ciências Criminais – @criminalistas – que consta com mais de 100 mil seguidores, se valendo da tentativa de manipular a opinião pública contra a Travesti Suzy que se encontra privada de sua liberdade e cumprindo pena pelos crimes que cometeu. Publicaram diversos posts e informações (que posteriormente foram apagados) sobre o suposto processo que culminou em sua prisão em uma campanha anti ética, carregada de julgamentos subjetivos e que se opõe diretamente ao que prevê o direito penal no que tange a conscientização pública sobre o sistema e a função da pena.
Que tipo de ajuda é essa que a página pretende disseminar ao expor publicamente uma pessoa que já está pagando pelo que fez em um país que institucionalizou um projeto de marginalização das pessoas trans?
Da mesma forma repudiamos, ativistas e grupos de feministas radicais que tem replicado massivamente o teor do processo que já transitou em julgado, intensificando a campanha difamatória,a fim de gerar mais ódio contra as pessoas trans e atacar diretamente o movimento que vinha sendo construído em prol de apoio a Suzy. O que, aliás, tem sido uma especialidade por parte dessa corrente do feminismo que tem contribuído de forma sistêmica para a disseminação e perpetuação da violência e por consequência o assassinato de nossa população, através de campanhas de ódio, muitas vezes baseadas em informações fraudulentas e toda a perseguição pública contra o direito das pessoas. Alinhando-se inclusive a grupos fundamentalistas, que são contra direitos das mulheres, com o desejo único de atingir a população de travestis e mulheres transexuais.
Pessoas cisgeneras que cometeram infrações graves continuam recebendo visitas, não são esquecidas. E neste sentido a reportagem com o Dr Drauzio Varella segue muito importante. E a forma com que cisativistas radicais vem replicando o caso tem como intuito desumanizar mulheres trans em qualquer instância, especialmente as encarceradas, e colocar todas nós travestis e mulheres trans numa posição igual a de bandidos de alta periculosidade, crueldade e frieza. Reforçando um perfil violento que a sociedade historicamente imputou a nossa população.
Sobre o ocorrido, observamos a transfobia pela necessidade de negar a identidade de gênero da Suzy quando a tratam no masculino e expõem seu nome de registro em toda rede social. Por acaso o fato de ela ter cometido crime não lhe dar o direito de ser reconhecida dentro da sua subjetividade? E com relação ao crime, a Suzy não teria direito a resssocialização? Por quais motivos? O fato de ela estar presa não seria o suficiente para reconhecermos que, no estado democrático de direito, ela estaria sendo punida pelo que cometeu? Não é disso que trata o direito penal ?
Essas perguntas demonstram o cenário em que ocorreram a divulgação sensacionalista do processo e os julgamentos implícitos que foram colocados quando da veiculação dos referidos posts. Uma das finalidades da pena é a resocialização e a reeducação, dando oportunidade de a pessoa responder pelo seu delito e de se redimir.
É preocupante a ideia de que a vingança tome o lugar da justiça por pessoas incapazes de entender a complexidade do processo punitivo, para que se destile todo racismo e a transfobia contra a nossa população. Precisamos acabar com a ideia de que as pessoas que estão presas não precisam de ajuda, afinal todas e todos nós sabemos o sistema prisional que temos no Brasil e que a maioria das pessoas que estão lá são negras – assim como a própria Suzy.
E mesmo que ela seja culpada pelo que dizem, não mudara absolutamente nada aqui fora. Somos contra atos de violência contra qualquer pessoa ou a violação dos direitos humanos de quem quer que seja.
O Estado já a condenou, não cabe a nós condená-la novamente!!!
Salvador, BA. 08 de Março de 2020.
Dia internacional das mulheres.
Keila Simpson
Presidenta da ANTRA
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