PT e PSDB tornaram-se prisioneiros de uma incoerência. Na oposição, prometem o novo. No poder, aliam-se às forcas mais arcaicas da política brasileira. O prefeito petista de São Paulo, Fernando Haddad, frequenta a cena como uma vistosa exceção.
Em entrevista ao blog, Haddad falou sobre a amizade que nutre por FHC, a boa relação institucional que mantém com o governador paulista Geraldo Alckmin e a parceria que estabeleceu com o tucanato nos sete anos em que foi ministro da Educação. Ele defende uma aproximação do governo petista com a oposição tucana para a elaboração de uma agenda comum no Congresso.
“A política não é guerra —ou pelo menos não deveria ser”, disse o prefeito. “Política é um embate de ideias. Eu divirjo de muitas coisas que o Alckmin faz. Ele provavelmente diverge de muitas coisas que eu faço. Mas nós mantemos uma relação institucional a mais profícua. É possivel, dentro das nossas diferenças, construir uma agenda comum.”
Haddad prosseguiu: “Fernando Henrique é decano do meu departamento. É professor emérito do departamento onde eu dou aula. Sou professor no mesmo departamento da USP que ele. Temos dezenas de amigos em comum. Alguns desses amigos nos aproximaram, sem nenhuma intenção política.”
Haddad trata o arquival de Lula e do PT com deferência inaudita: “É um intelectual, teve projeção na academia internacionalmente. É uma pessoa que tem bons livros, livros que eu li. Ajudaram na minha formação. Tenho certeza que ele tem também respeito intelectual por mim.”
Há cinco meses, Haddad e FHC foram juntos ao Theatro Municipal de São Paulo para assistir a uma ópera de Puccini. E a relação entre ambos encorpou-se: “Já jantamos juntos. Já nos encontramos no Institiuto FHC, fiz questão de visitá-lo quando mudei pra cá, por assim dizer. Ele é praticamente vizinho da prefeitura. Não tem cabimento esse tipo de hostilidade pessoal.”
O prefeito diz considerar “a política brasileira muito imatura. A tal ponto que afugenta os jovens com vocação para a vida pública. “Estamos cultivando uma ojeriza à política. Sem política, não haverá transformação para melhor do mundo. A política, como a arte e a ciência, é a mola de propulsão da transformação para melhor. O problema é que a política, como a ciência, pode destruir também. Você pode, pela ciência, criar uma bomba. Pela política também se pode criar destruição. Mas são instrumentos de transformação. Isso tem que ser utilizado para o bem. Nós estamos sinalizando o que tem de pior. Nós estamos falando: ‘olha, não vale a pena isso aqui!’”
A certa altura, Haddad relatou o exemplo de uma parceria bem sucedida que foi capaz de estabelecer entre PT e PSDB: “Fui durante quase sete anos ministro da Educação. Meu antecessor mais longevo foi o Paulo Renato [já morto], que foi ministro do governo Fernando Henrique por oito anos. Éramos amigos. Sentávamos para discutir política educacional.”
Com uma ponta de satisfação, Haddad perguntou: “Sabe quantas vezes o PSDB votou contra um projeto do MEC? —e foram 50 projetos de lei e duas emendas constitucionais —sabe quando o PSDB votou contra um projeto do MEC na minha gestão? Nunca! Porque eu recebia a bancada do PSDB, eu ajustava o texto, eu pactuava acordos. Eu falava: isso aqui não é uma agenda do PT, é uma agenda do país. Acho que está faltando muito disso no Brasil. As pessoas estão levando a política para um lado destrutivo, um lado de anular o adversário, e não de derrotá-lo na eleição.”
FONTE: BLOG DO JOSIAS